Meu Primeiro Ano como Cientista de Dados: The Good, The Bad, and The Ugly

Há quase um ano eu começava minha primeira experiência como Cientista de Dados.

Enfrentava esse começo com expectativas, ansiedade e um pouco de receio.

Gastei boa parte da minha vida me dedicando ao mundo acadêmico, estudando estatística, matemática, programação e ciências educacionais, mas eu sabia que o trabalho real de um cientista de dados era bastante diferente daquilo que eu aprendi em todos os anos de estudos acadêmicos.

Olhando para trás, fico espantado pelo quanto aprendi, pelos desafios que enfrentei e pelos aprendizados que levo comigo. Aprendi muito e, ao final desse ano, fui promovido de Pleno para Sênior em um dos maiores bancos da América Latina.

Neste artigo quero compartilhar minha experiência com todas as pessoas que estão começando na área e comentar sobre as lições mais importantes que aprendi no caminho.


Entrar para a carreira de cientista de dados não foi fácil. Durante muitos anos, desde a faculdade até o pós-doutorado, analisei dados, desenhei pesquisas, escrevi artigos, ensinei em cursos do ensino superior e desenvolvi softwares educacionais.

Escrever dissertação e tese exige um comprometimento que, muitas vezes, pode acabar com a saúde mental de pesquisadores e de quebra, não ter uma remuneração adequada aos desafios e entregas exigidas pelo mundo acadêmico.

Ao buscar por outras oportunidades de carreira, percebi que Ciência de Dados é uma profissão bem próxima a de um pesquisador acadêmico, só que bem remunerado. No entanto, o principal motivo que me fez mudar de área é que eu me tornaria automaticamente mais sexy.

“Mais rico e mais sexy” — Esse era meu mantra de motivação.

Lembro até hoje que eu quase escolhi não participar do processo seletivo. Eu tinha um emprego que estava chegando ao fim do período de experiência e mais um emprego complementar, como professor em uma faculdade particular perto de minha casa.

O último dia para realizar o primeiro teste de programação, para a vaga que me inscrevi, aconteceu no mesmo dia em que houve uma comemoração do dia dos professores nessa faculdade.

Eu estava na festa, comi, e como não sou acostumado a ficar até tarde, voltei para casa. Minha esposa estava jogando vídeo-game e pensei, bom, acho que vou fazer o teste e ver o que dá.

Li o case de programação que eu deveria resolver e pensei: “Hmmmm, isso vai me tomar algumas horas”. Voltei para a sala e vi que minha esposa estava bastante entretida com o jogo. Ao não ter nada para fazer, decidi resolver o teste.

Foi divertido e consegui resolver! Yeah!

Depois disso, algumas questões objetivas foram propostas e passei por elas sem maior dificuldade (até hoje não sei quantas delas acertei). Depois de alguns dias de ter terminado essa etapa, recebi um e-mail dizendo que eu tinha passado para a próxima fase.

Na segunda fase, fui entrevistado por um Cientista de Dados da empresa. Conversamos sobre modelagem e respondi com bastante calma, repetindo as perguntas para ter certeza de que eu tinha entendido. Foi uma boa entrevista e o profissional que me entrevistou foi muito gente boa.

Nessa fase eu pensei que não iria passar, pois muitas das perguntas que ele fez eu não soube responder de primeira. Eu lembrava os conceitos, por ter estudado anteriormente, mas não saberia como implementá-los com exatidão, ao vivo, usando somente minha memória.

Ao receber o e-mail dizendo que eu tinha passado para a próxima fase, a ansiedade bateu porque comecei a pensar realmente que existia uma chance de dar certo.

Vou pular os detalhes da última fase porque a entrevisa teve algumas questões que não sei se posso abrir publicamente. Mas deu certo!

Recebi uma ligação uma semana depois de ter terminado meu período de experiência na empresa anterior e tive que cumprir aviso prévio por causa disso.

Eu não me cabia de felicidade!

Os primeiros três meses de empresa foram bem intensos. Eu pensava todo dia: “Será que vou ser demitido hoje!?”

Na fase de experiência da empresa existe um processo chamado, Onboarding, onde toda pessoa que acabou de ser contratada passa por uma espécie de treinamento dentro da área onde vai atuar.

Eu começava o dia perdido e terminava desnorteado.

Era muita coisa. Felizmente, as pessoas designadas como minhas líderes eram muito competentes e pacientes. Me ajudaram a entender que o processo era assim mesmo e com o tempo, tudo faria sentido. De fato, estavam certas.

No meu primeiro projeto, o objetivo era desenvolver algo relacionado a uma pergunta que eu não soube responder na entrevista técnica. Era um framework que eu nunca tinha ouvido falar, pra ser sincero. E dificilmente é uma coisa que os cursos de Ciências de Dados ensinam.

Acredito que uma grande força que tenho é ser muito determinado em aprender coisas novas. Isso porquê eu sei das minhas limitações e sei mensurar o quanto eu não sei. Também vou atrás de ajuda quando estou bloqueado e preciso de um empurrãozinho.

Algumas pessoas dizem que tenho facilidade em aprender. Não tenho. Na verdade, eu tenho muita dificuldade, mas eu insisto muito no meu processo de aprendizagem, mesmo que eu precise me dedicar muito mais vezes do que alguém com facilidade faria.

Isso permitiu que eu terminasse o projeto inicial. Não fui demitido e, em seguida, iniciei um projeto bastante desafiador.

Ao fazer uma retrospectiva do primeiro projeto e começando com o novo, conversei com meus líderes sobre meus objetivos de carreira.

Eles me passaram o mapa da mina, com descrições específicas e pontuais sobre o que era esperado que eu realizasse no nível que eu estava, e ainda, o que eu deveria fazer do nível superior para que eu o alcançasse.

Eu sabia onde queria chegar, eu tinha o trajeto delineado, bastava que eu percorresse o caminho. O maior obstáculo? Eu mesmo.

Foram muitos os dias que eu achava que não ia conseguir, porque alguma coisa não funcionava nos meus códigos ou que eu olhava e nada fazia sentido.

Quando isso acontecia, eu voltava ao básico. Não é vergonha nenhuma olhar no Google ou no Stackoverflow alguma solução para um problema. O problema precisava ser solucionado e o meu papel era resolver esse problema. Ao fazer essas que eu pensava serem básicas demais, eu aprendia o que precisava ser feito.

A internet é ótima para aprender, discutir com pessoas sobre problemas específicos e trocar ideias. Não boa somente para mêmes.

O meu próprio ego me atrapalhava em alguns momentos e fazer terapia me ajudou muito nesse sentido. Essa coisa de querer saber tudo vem de uma educação escolar punitiva, que provavelmente, você também experimentou ou experimenta.

Existem momentos específicos em que errar é permitido, então se eu posso dar uma dica é: Erre enquanto você pode para que não erre quando não puder. Ohhh grande mestre, grande conselho. 😛

Vencendo diariamente minhas inseguranças, após alguns meses de trabalho intenso, terminamos o projeto.

As minhas conquistas são coletivas. Não fiz nada sozinho.

É importante dizer que outro ponto forte que considero ter é saber me relacionar com pessoas em ambientes colaborativos.

As pessoas que trabalham comigo são fenomenais e eu não conseguiria ter terminado meus projetos com sucesso, se não fosse por elas. A comunicação, sinergia, entender as limitações e os potenciais de cada pessoa faz com que planejamentos sejam traçados de forma eficaz e com segurança.

Comunicação e transparência são as chaves para execução de projetos de alta complexidade.

Saber onde está indo, onde está, porquê não avança, porquê está atrasado, porquê está adiantado, são respostas que vão fazer com que o líder do time consiga delinear as etapas de execução, alterando o que for necessário tomando medidas para que o projeto seja finalizado.

Ser Cientista de Dados é uma responsabilidade que tem um papel muito bem determinado dentro de um time onde as decisões são tomadas baseadas em dados. No final, tudo precisa funcionar muito bem, porque somos pagos pra isso.

Uma dica que eu considero muito importante: Se seu time possui Analistas de Dados (Bussiness Analysts), cole nelas ou neles. Essas pessoas tem experiência com o negócio e entendem muito bem como traduzir informações em conclusões que podem ser cruciais para a modelagem.

Graças a orquestração do nosso time, conseguimos entregar o projeto e fazer com que ele fosse aprovado no final do ano passado.

Se a coroa serve, vire rei!

Meu orientador de doutorado falou essa frase uma vez. Parecia um ditado, mas foi assim que eu entendi. Ele falava francês e apesar de eu ser fluente, tem muita coisa que só funciona na língua francesa e a tradução fica esquisita.

Na ocasião, eu estava atônito por estar defendendo um doutorado e era estranho finalmente conquistar o título de doutor.

No começo de fevereiro tive minha avaliação pelas pessoas responsáveis pela minha carreira e fui promovido de Cientista de Dados Pleno, para Sênior.

Foi um momento de grande felicidade, pois era um objetivo que eu tinha desde o começo. O caminho foi longo e sei que ainda tenho muito espaço para evoluir dentro da minha profissão.

Ao ser promovido, entendo que tenho que ter uma performance no nível desejado. Maiores desafios virão, mais responsabilidades também.

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Abraços e até a próxima!

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